A inflação na construção civil e seus reflexos no mercado

Nos últimos 12 meses, a inflação acumulada nos produtos na construção civil atingiu 38,66%, dentro do Índice ao Produtor 10 – material e equipamentos para construção, sem frete e sem impostos (porta da fábrica). Essa inflação foi recorde dentro do índice, criado em 1993, ou seja, em 28 anos de existência.

Os dados foram apurados pelo Jornal Valor do dia 21/05/2021. Os especialistas consultados pelas repórteres Alessandra Saraiva e Lucianne Carneiro, avaliaram a ocorrência de uma “tempestade perfeita” de fatores que ajudam a puxar para cima os preços dos produtos. Segundo a reportagem dois são os fatores de maior peso no índice: a disparada de preços de commodities minerais e metálicas usadas para matérias-primas de produtos no setor e a alta do dólar, que tem se mantido num patamar bastante elevado, desde o começo da pandemia. Outros fatores também contribuem para a disparada da inflação no setor da construção civil, como o aumento de demanda por projetos residenciais, a elevação de procura de material; a alta no preço do frete e a dificuldade em importação de itens usados no setor, para suprir o mercado doméstico”.

Os repórteres do Jornal Valor também conversaram com o Presidente da Câmara Brasileira da Industria de Construção (CBIC) que considerou parte dessa crise “à impossibilidade de importar, rapidamente, itens para a construção em falta no mercado. Na entrevista, ele defendeu ações para destravar compras externas. Na avaliação dele o governo tem a caneta para trabalhar com redução de barreira técnica e impostos de importação.

Na mesma linha, estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV / IBRE) mostrou que os materiais que mais sofreram com a aceleração dos preços, foram os vergalhões de aço, líderes do ranking, tubos de PVC e cabos elétricos. (Fonte CBIC).

Segundo Ana Maria Castelo, Coordenadora de Projetos da FGV / IBRE, “o aumento dos custos em curto período foi expressivo e imprevisível, o que tem causado grandes desarranjos organizacionais e atingido contratos em andamento. A elevação dos custos ainda vem impactando no início de novas obras, cujos orçamentos se tornam defasados rapidamente”.

Castelo ainda comentou os fatores que continuam a afetar a alta dos insumos, como a pandemia da covid-19, que impacta na retomada da economia, além dos custos envolvidos na importação de alguns materiais e a alta do dólar.

Na avaliação de Alexandre Schmidt, presidente da Associação Brasileira da Construção Metálica (ABCEM), os preços não devem se acalmar neste segundo semestre. Para o Schmidt, a estabilização dos valores deve ocorrer somente em 2022.

Com esse cenário, depois de ouvida a gestora de investimento Rio Bravo e a Tendência Consultoria, a reportagem da Revista Valor,  vê “alguma desaceleração do ritmo de alta, mas com continuidade da pressão de custo para a indústria”. “O patamar continuará alto” na opinião de João Leal, economista da Rio Bravo. Essa também é a previsão de Samanta Imbimdo, economista da Tendências que previu que “a alta dos custos deve-se refletir em avanço dos preços dos imóveis nos próximos meses, o que afeta as unidades novas que tem influência no preço das antigas”. Mas de outro giro a economista afirma que “existe demanda reprimida e que as vendas devem continuar a se beneficiar dos patamares relativamente reduzidos de juros e condições de crédito favoráveis.

 

Alfeu Queiroga 

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